quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Darksiders


John recobrou os sentidos, mas ainda estava bastante atordoado. Estava caído em um beco escuro, sobre uma poça de água suja e fétida. Não tinha lembranças de como havia chegado até ali. Ou do que havia acontecido. Foi então que viu algo que o atordoou ainda mais.

Em outra poça, logo a sua frente, John viu ele mesmo, caído e com um pedaço de ferro enfiado na cabeça. Havia muito sangue no chão.

Esfregou os olhos freneticamente, esperando que ao terminar o gesto o corpo não estivesse lá. Seria apenas imaginação? Mas ao abrir os olhos novamente, lá estava ele mesmo caído e aparentemente morto. As roupas eram idênticas às que John estava usando. Jeans surrados e rasgados, camiseta branca e uma jaqueta de couro marrom bastante desgastada e velha.  

John se estapeou diversas vezes no rosto. Com força. Mas o corpo continuava lá. Não parecia imaginação. Ele então virou o homem com seu próprio rosto e checou a pulsação. Nenhum batimento. E o corpo estava frio e rígido, provavelmente morto já há algum tempo.

Antes de retirar a mão do cadáver, John sentiu uma espécie de choque percorrer todo seu braço e uma onda de lembranças atingiu sua mente.

Um bar de strip-tease. Uma, duas, muitas doses de whisky barato. Algumas cervejas quentes. Muitos dólares colocados na calcinha da loira com peitos dignos de estrelas de filmes pornôs. Ela havia sentado em seu colo e esfregado os mamilos em sua cara. O perfume era doce, mas muito diferente do perfume de Lydia! Naquela manhã, a namorada de idas e vindas desde os tempos de colégio havia deixado John: ou você deixa essa vida de crimes, ou eu deixo você! Esse ultimato fora há um mês, mas ele não acreditou.

Saiu do bar sozinho; cambaleando. Subiu na Harley Daividson e deu partida. A chuva batendo em seu rosto ajudou um pouco. Após alguns quilômetros, as doses de whisky barato e as cervejas cobraram seu preço: sentiu vontade de mijar e estava bastante enjoado. Parou a moto e saltou próximo a um beco escuro e isolado em uma área aparentemente industrial. Enquanto mijava na chuva, ficou enjoado e vomitou repentinamente. Caiu de joelhos e outro jato de bebida subiu de seu estomago queimando a garganta enquanto abria seu caminho para o mundo. Foi então que ouviu as risadas!

- Hihihihi! Hahahaha! Que cena patética! Eu nunca perderia a compostura por casa de uma puta como a Lydia!

John olhou assustado para o local de onde veio a voz. Parecia com sua própria voz. Ele escutou os passos no chão molhado, se aproximando aos poucos.

- Eu teria enfiado uma faca no meio das tetas dela! Arrancaria aquele coração mole e comeria cru! Jamais iria deixar ela mandar em mim! Mas você é um banana e deixou ela ir embora. Agora está aqui, pondo as entranhas pra fora e choramingando na chuva! Patético!

John viu horrorizado que o dono da voz era ele mesmo. Como assim? Aquilo só podia ser sonho!

“Será que além das bebidas usei alguma coisa a mais? ”  – pensou.

Mas o chute que o falador lhe deu nas costelas foi bem real. E dolorido! Todo o ar foi expelido de seus pulmões e John caiu com a cara no próprio vômito. Enquanto se contorcia, o homem voltou a falar:

- Não se preocupe! Estou aqui para ajudar! Sou o seu “eu negro”! Sua metade mais animal! Estou aqui para tomar o seu lugar! Vou matar tudo que há de bom em você e então sobrará somente o mal. Todos no mundo irão morrer! E o lado negro de cada um irá tomar essa terra! Não há como evitar! Hahahaha!

Quando o lado negro se preparava para mais um chute, John atirou-se para cima dele e o lançou ao chão. Os dois entraram num combate pela sobrevivência, como dois animais. Mas o lado negro de John parecia ser mais forte e o arremessou contra uma lixeira. John bateu com as costas e então o lado negro começou a abrir e fechar a tampa da lixeira em sua cabeça. Uma, duas, três vezes!

John já estava prestes a perder a consciência e se entregar para a morte certa, quando sentiu o cheiro doce do perfume de Lydia. A lembrança dela ativou um último ímpeto de sobrevivência em John, que conseguiu dar um coice no atacante.

A metade negra de John cambaleou andando para trás, tropeçou e caiu de costas. Sua cabeça foi trespassada por uma barra de ferro, parte de uma antiga grade que fechava o beco.

John tentou se levantar. Cambaleando, com a cabeça latejando, viu seu atacante fora de combate. Sorriu e caiu de cara no chão desmaiando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário