quarta-feira, 1 de junho de 2016

A História de Kanrock Dragão da Montanha


Esta é a história de um homem que caminha rumo ao desconhecido. Sem saber os motivos que o levam a isso, mas com uma certeza; deve continuar em frente. A história aqui contada foi, e continua sendo escrita por Norhorn Coração de Aço.


Capitulo I - Um nascimento; um desafio.


A escuridão era quase total nas montanhas da região de Sang naquela noite fria. Somente era possível enxergar o recorte dos grandes picos no horizonte, quando os olhos dos Deuses brilhavam em relâmpagos. O estrondo dos trovões era ensurdecedor, mas não encobria o “uivo” dos ventos, que castigavam as rochas impiedosamente. Na pequena vila de Sangren, que ficava mais ou menos na metade da encosta, uma modesta cabana, um pouco mais afastada, lutava para permanecer em seu lugar. E havia outra luta acontecendo lá dentro; a luta de uma mulher contra a dor do parto.


Os gritos eram uma mescla da dor com o desespero. O desejo de que tudo em volta não mais existisse era um dos únicos pensamentos que Alliora Estrela da Manhã conseguia ter. Um dos únicos porque havia algo mais em que ela pensava; a morte.


Não tinha sido assim em seu outro parto, quando ela deu à luz ao primeiro; aquele que levaria consigo o destino de uma família. Beldalis Vento da Montanha era seu nome, e ele teria um papel muito importante no destino daquele que viria ao mundo em uma noite escura de tempestade. A dor havia sido menor e tudo havia acontecido num curto intervalo entre duas brisas. Mas agora, até mesmo Beldac Montanha Escura, parecia estar com medo. Seus olhos estavam fixos, imóveis, assustados. Nem mesmo os gritos de sua bela e amada esposa pareciam tirá-lo do transe em que estava. Via a morte, que respondera aos chamados de Alliora. Tudo estava perdido.



Então, um forte vento abriu a porta com violência e a escuridão foi extinta novamente por alguns segundos, quando um raio atingiu uma árvore próxima. E com a luz, uma esperança surgiu. Beldalis estava voltando, e com ele vinha Norhorn Coração de Aço, irmão de Alliora.
Beldac, então, pareceu sair de seu transe e dirigiu-se rapidamente até a porta, bloqueando a entrada dos dois. E com uma voz sombria disse que Norhrn não era bem-vindo em seu lar:

- Não ouse se aproximar, você não deve interferir no destino. Você já tentou uma vez, quando quis impedir que eu me casasse com ela. Agora ela é minha esposa, está em minha casa e não há nada que você possa fazer. Se a morte tiver que levá-la junto com meu segundo filho, é assim que tem que ser.


Norhorn levantou a cabeça e olhou profundamente nos olhos dele.


- Você e suas palavras sobre destino. Quem é você para falar sobre uma coisa que não entende?

Empurrou Beldac, entrou na cabana em silêncio e dirigiu-se até o leito. Sentia a dor e o desespero de sua irmã cortando o ar. Isso feria seu nobre coração.


Ajoelhou ao lado da cama e começou a falar em uma língua desconhecida. Suas palavras eram doces, mas em alguns momentos pareciam desafiar alguma coisa. Por cerca de cinco minutos ele continuou falando e a paz foi tomando conta de Alliora, que adormeceu. O choro de uma criança cortou o silêncio, que agora era absoluto, mesmo com a tempestade que castigava a região. Norhorn pegou a criança recém-nascida e a ergueu.


- Minha querida irmã, você trouxe mais um menino ao mundo. E do mesmo modo que a chegada dele foi difícil, também será assim a jornada. Ele precisa de um nome que lhe traga força e confiança. Ele será Kanrock Dragão da Montanha e assim terá a força e resistência das rochas destas terras e a sabedoria e inteligência dos grandes dragões que habitaram este mundo em eras passadas.


Beldac interrompeu furioso.


- Como ousa querer nomear aquele que tem meu sangue, ferreiro insolente.

Alliora respondeu com firmeza.

- Ele também tem o meu sangue, que corre da mesma forma nas veias de meu irmão. E se não fosse por Norhorn nem eu e nem seu segundo filho estaríamos aqui agora. Então, como mãe, faço minhas as palavras de meu irmão. Kanrock Dragão da Montanha será o nome dele.

- Se assim o quer, minha amada Alliora, assim será então. – respondeu Beldac se virando e caminhando para fora da cabana com um brilho sinistro nos olhos – Assim será!

Enquanto se afastava, dirigindo-se para o centro da vila, dois raios simultâneos atingiram as árvores que ficavam ao lado da casa.

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 (Este texto foi escrito em 2006, quando eu estava criando uma personagem para uma campanha de Dragonlance - RPG medieval. Hoje resolvi reeditá-lo e compartilhá-lo com vocês. Essa campanha foi épica, principalmente porque os jogadores criaram personagens fantásticas, com profundidade de detalhes e o mestre soube "encaixar" muito bem os detalhes de cada um deles na história. Ainda penso em desenvolver essa história de Kanrock, talvez em um conto ou então uma noveleta - apesar de várias ideias, ainda estou tímido para tentar escrever um romance)



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