A cesta de doces foi preparada com muito cuidado pela mãe de
Chapeuzinho Vermelho. A menina ainda não havia acordado. Quando levantasse,
bastava tomar o café da manhã rapidamente e então a caminhada até o morro
vizinho para entregar a encomenda para a Vovozinha.
Enfrentar o asfalto não era uma tarefa fácil, principalmente
depois das várias passagens pela polícia. Como era menor, Chapeuzinho sempre se
safara. Vovozinha tinha ótimos advogados a serviço da facção. Mas a polícia já
a conhecia, então ela tinha que redobrar os cuidados quando fosse entregar as
encomendas.
O carregamento havia chegado na noite anterior. Cinquenta
quilos de pasta de coca pura. A entrega era sempre feita no morro da
Chapeuzinho, de barco, em um braço de mangue que ficava no lado oposto ao da
cidade. A escuridão e o acesso difícil ocultavam as atividades da polícia.
Chapeuzinho acordou ainda na madrugada. Colocou sua capa
vermelha e escondeu duas pistolas na cintura. Comeu com a mãe os pães, tomou o
café com leite e preparou-se para sair. Beijou a mãe e dirigiu-se para a porta
do barraco. Foi interrompida pela mãe ao tocar a maçaneta.
- Se vir aquele filho da puta do Lobo Mau, mete uma azeitona
nele! Não dê mole, hein!
- Pode deixar, Mamãe! Se eu cruzar com ele dessa vez, ele não
vai nem ver o que o atingiu!
Chapeuzinho saiu cantarolando um funk. Caminhava com cuidado
pelos becos e vielas. Passou por alguns moradores da comunidade que já se
dirigiam ao trabalho. Todos a olhavam com um misto de medo e respeito. Afinal,
era a neta preferida da Vovozinha.
No morro não havia problemas. O pessoal da comunidade dava
cobertura caso os “alemão”
resolvessem subir. Mas as cinco quadras que separavam os morros vizinhos eram o
grande problema. Não era fácil achar cobertura. Mas a menina estava com sorte
hoje! Uma moto com um rapaz se aproximou quando ela ia deixar a proteção do
morro.
- Chapéu, Chapéu! Como vai minha gatinha?
- Marquinhos VP, quando foi que saiu da cadeia?
- Ih gata, os maluco
me deram o tal de induto de dia das mães! Aí só não voltei, morou! Tava com
saudade de tu, minha nega!
- Eu também tava! Mas agora tenho que ir até a Vovó, levar
esses doces! – disse mostrando a cesta.
- Sobe aí que a gente corta esse asfalto rapidinho! Não vai
ter alemão pra te pegar hoje! Quem vai te pegar depois sou eu!
Chapeuzinho subiu na garupa, com a cesta entre ela e
Marquinhos VP. Ele arrancou com a moto em alta velocidade e em pouco tempo
pararam ao pé do Morro da Vovó.
- Vai lá, Chapéu! Depois da entrega, vou te levar prum motel pra tu relaxar numa banheira
de espuma!
Chapeuzinho subiu o morro. O barraco da Vovó ficava bem na
parte de cima, com visão de todos os pontos de chegada. Bateu na porta quando
chegou.
- Entre minha netinha. Vovó estava te esperando. Estou meio
gripada e ainda estou deitada no quarto.
Ao atravessar a porta da sala para quarto, Chapeuzinho foi
surpreendida pelo Lobo Mau. Ele estava com uma equipe de seis homens fortemente
armados. Todos vestiam preto e a caveira no braço já dizia que a menina estava
em apuros.
Como podia ter sido tão burra – pensou - Aquela voz há pouco estava bem diferente da
vovó, mas o “meio gripada” serviu para enganá-la. O Lobo que havia imitado a
vovó tão bem, agora ordenou a um de seus homens.
- Bota a porra da menina no saco, Matias!
Sem ter tempo de reagir, Chapeuzinho se viu com a cabeça
enfiada em um saco plástico. Lutando para respirar, sentiu as primeiras
porradas e o sangue escorrer do nariz quebrado. Então o saco foi tirado e o
Lobo deu dois tapas na cara da menina.
- Cadê a porra da velha, sua piranha? Onde ela se escondeu,
caralho?
Chapeuzinho tentou cuspir no Lobo, mas o saco já estava de
novo em sua cabeça. Mais algumas porradas e então quando ela achava que ia
desmaiar sem ar, o saco saiu de novo. A garota puxou o ar com força, quase
gritando. Então o Lobo deu mais dois tapas para ela acordar direito.
- Fala, porra! Abre o bico, caralho! Senão eu vou abrir a
porra de um buraco nessa merda da tua cabeça! – ele encostou uma pistola na
têmpora da menina.
Quando ela ia falar, começaram os tiros. O Lobo foi atingido
no colete e caiu no chão atordoado. Chapeuzinho se jogou também, quando o
policial que a segurava foi atingido na cabeça.
***
Marquinhos VP estava começando a estranhar a demora. Fumava
um baseado sentado na moto quando a Vovó apareceu.
- Moleque, vem comigo! Aquele filho da puta do Lobo invadiu
aqui na surdina e estava no meu barraco quando a menina chegou. Eles devem ter
pego ela e isso não vai ficar barato! Vamos massacrar esses “alemão”!
Vovó jogou um fuzil para Marquinhos. Ao passarem pela birosca
da Baiana e começarem a subir o morro, vários homens armados se juntaram a
eles. Ia ter guerra!
***
Os tiros duraram quase 5 minutos sem parar. Nenhuma das balas
partiu de dentro do barraco. Foi um verdadeiro massacre. Os seis homens que
estavam com o Lobo Mau não tiveram a mínima chance. Somente o Lobo e
Chapeuzinho que estavam no chão sobreviveram. O Lobo estava bastante atordoado,
depois do tiro aparado pelo colete, mas viu Chapeuzinho se levantar e apanhar
um fuzil de um dos seus homens mortos e apontar pra ele.
- A casa um dia vai cair pra vocês, sua piranha! – praguejou.
- Piranha é o caralho! Meu nome é Chapeuzinho Vermelho,
porra!
O tiro ecoou pelo morro e praticamente arrancou a cabeça do
Lobo.
Adorei! Parabéns...
ResponderExcluirExcelente!!
ResponderExcluirKkkkk agora brincando com dois clássicos, chapeuzinho vermelho e tropa de elite
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